22.6.11

Ajudar D. Sebastião. Rainer Daehnhardt

O ano de 2010 terminou com algo inesperado, mas intimamente desejado: A REDESCOBERTA E AQUISIÇÃO DO ELMO DE BATALHA DE D. SEBASTIÃO! O ano de 2011 vai começar com O REGRESSO DO ELMO, motivo de alegria e reflexão.
Não há outro monarca luso que tão vasto leque de opiniões suscite. Para uns é mental ou fisicamente defeituoso, a ponto de acharem preferível que tivesse morrido à nascença. Para outros, é um Anjo Salvador, que regressará algum dia.
Penso ter chegado a altura do povo separar o trigo do joio e colocar os pontos nos “is”, para se saber, com maior grau de certeza, quem foi D. Sebastião e por que razão fez o que fez.
Os últimos tempos ofereceram diversos sinais que, de certa forma, nos chamam a rever tudo o que se disse, escreveu ou alegou, acerca desta figura mítica e lendária, atacada e amada, que tão profundamente se encontra ancorada na alma do Mundo Português.
Tudo começou quando, contra a vontade de muitos, um Papa Alemão canonizou um Marechal General, herói nacional, que não morreu de martírio. Trata-se do NOSSO CONDESTÁVEL, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Em Portugal, desde o século XV que é tratado como nosso SANTO CONDESTÁVEL. Sob o ponto de vista da Igreja, nem monge foi. A sua recente canonização foi de tal modo contestada a nível internacional, que chegou a ser negado mesmo o mais humilde reconhecimento pelo órgão do estado a quem isso competia. Quem sistematicamente procura denegrir os Chefes da Igreja Católica, reencontrou logo no passado da juventude do Papa (o cumprimento do serviço militar e a ascendência de D. Nuno Álvares Pereira, pelo lado materno, ligado à Casa Real Germânica, na Lombardia), razão “obscura” desta canonização. O Papa, porém, não deixou nada obscuro. Não apenas canonizou o Herói Nacional Luso, como até deu, por pergaminho, a BENÇÃO PAPAL A TODOS OS INFANTES DE PORTUGAL, algo que desde que D. Afonso V assumiu a cruzada contra o Islão não acontecera.
Esta bênção papal esteve exposta na sala elíptica (a sala de honra), na Escola Prática de Infantaria, no Palácio de Mafra. Foi belo verificar que, na homenagem que a EPI prestou ao Santo Condestável (seu patrono), tanto as entidades museológicas como as eclesiásticas trabalharam em conjunto com as militares, para prestar a homenagem devida. Na sala de honra estavam em grande destaque, não apenas as relíquias do Santo, manuscritos por ele assinados, que a Torre do Tombo tinha cedido, belos quadros de D. Nuno do Museu Nacional de Arte Antiga, como a grande estátua do Condestável a pé, segurando o seu famoso martelo de armas (chamado “Bico de Corvo”). Estátua idêntica encontra-se na Sala de Aljubarrota do Museu Militar de Lisboa e as suas representações repetem-se em grande parte da iconografia que existe do Santo Condestável, desde o século XVI.
Pode e deve-se perguntar: o que isso tem a ver com D. Sebastião? Inaugurou-se recentemente, num Museu de Zurique, uma exposição sobre marfins do Ceilão, onde figura um quadro representando D. Sebastião aos oito anos de idade. Este esteve erradamente classificado, num palácio austríaco, sendo por isso desconhecido, desde o século XVI. Ao fim e ao cabo trata-se de um Neto Rei do Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano de Nação Germânica.
Os Soberanos costumam ser representados com os seus atributos régios, isto é, a coroa, o ceptro e a espada da justiça. Por vezes, apenas são representados com um simples bastão de comando.
O nosso monarca deixou-se representar em armadura (uma de Augsburgo, entretanto desaparecida), segurando na mão o MARTELO “BICO DE CORVO” de D. Nuno Álvares Pereira. Como é possível que um monarca se deixe representar com uma arma de comando de infantaria, quando a arma nobre da altura era a da cavalaria? Como é que o nosso monarca escolheu o símbolo de um Herói Nacional falecido há muito, que liderou o povo, o peão, no combate contra a cavalaria castelhana e francesa, tornando-se Herói e Santo Salvador da Pátria ? Terá sido por influência patriótica do seu professor, Damião de Góis?
Como se pode permitir que se represente um jovem Rei, em 1562, com uma arma de 1385? Isto seria o equivalente a colocar uma arma das invasões napoleónicas nas mãos de um comandante supremo actual! Algo descabido, que dá que pensar!
Sabemos que D. Sebastião mandou abrir os túmulos dos seus antepassados e daí retirou as suas espadas para estas lhe servirem de talismã na sua campanha africana. Até levou o elmo de Carlos V com que tomou Tunes.
Será que D. Sebastião também mandou abrir o túmulo do Santo Condestável, no Convento do Carmo, em Lisboa e lhe tenha pedido de empréstimo o seu Martelo de Armas?
Imenso do que diz respeito a D. Sebastião ainda hoje se encontra envolvido em secretismos.
O aparecimento do quadro de D. Sebastião com o Martelo de Armas do Santo Condestável e do Elmo de Batalha, são como badaladas de um sino da História, que nos acordam para o cumprimento de um dever: DESCOBRIR AS VERDADES ACERCA D. SEBASTIÃO!
Para isso, devemos reunir tudo, mas mesmo tudo, que nos possa oferecer luz.
A grande maioria das obras dos nossos cronistas e historiadores peca por terem tido “donos”. Estes não se preocupavam com a verdade, mas apenas com a apresentação da vertente mais conveniente para os seus interesses. Isto anula parte da fidelidade dos seus relatos. Devemos estudar documentos originais, nunca estudados ou interpretados. Existem, precisam é de ser encontrados.
No século XVI enforcaram-se os padres franciscanos que ousavam levantar dúvidas acerca da morte de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. Os dominicanos trabalharam com o Santo Ofício e este com o poder entronado. Não havia vontade de se saber algo mais concreto acerca de D. Sebastião. As diferentes obras publicadas acerca de relatos da batalha carecem sempre da concordância do Santo Ofício, o que anulava qualquer divulgação de conhecimentos não condizentes com a versão oficial.
Os primeiros a lançar pesquisa sistemática acerca do que acontecera foram os alemães. Era do neto do seu Imperador que se tratava. Até enviaram pesquisadores a Veneza, porque existia grande convicção de que o chamado “3º Falso Sebastião”, o que apareceu em Veneza logo após a morte de Filipe II de Espanha, tenha sido o verdadeiro.
Aos Filipes não convinha que D. Sebastião voltasse!
Aos fanáticos dentro da Igreja também não!
Aos proponentes da Casa Ducal de Bragança como nova Dinastia Lusa também não!
Então quem é que queria saber a verdade? Apenas alguns estudiosos estrangeiros?
NÃO! O povo sempre quis saber a verdade e duvidou das explicações oficiais.
O POVO SEMPRE SENTIU ESTAR MAIS PERTO DA VERDADE, EMBORA NÃO O SOUBESSE EXPLICAR OU EXPRIMIR!
Apenas em Portugal existe um majestoso mosteiro (o dos Jerónimos, em Lisboa, à antiga beira do Tejo), onde se apregoa algo incompreensível aos cérebros lógicos e racionais. Mostram-se três sarcófagos imponentes mas “enganosos”. Um é o de D. Sebastião, com a inscrição (traduzida do latim): “SE É VERA A FAMA, AQUI JAZ SEBASTIÃO, VIDA NAS PLAGAS DE ÁFRICA CEIFADA. NÃO DUVIDEIS QUE ELE É VIVO, NÃO! A MORTE LHE DEU VIDA ILIMITADA”. Outro é o de Vasco da Gama, que nunca nele entrou e o terceiro é o de Luís de Camões, que, na realidade, acabou por ser enterrado em vala comum! Os três túmulos albergam dos mais significativos capítulos escritos pela alma lusa, algo que apenas quem ama Portugal compreende.
Tudo o que temos acerca de D. Sebastião é uma longa lista de perguntas por responder:
Terá de facto trocado de cavalo e armadura com o seu escudeiro em plena batalha?
Foi o seu escudeiro que morreu em vez dele?
Os nobres lusos, prisioneiros dos marroquinos, que foram reconhecer o seu corpo fizeram-no devido ao elmo, pois tinha a cara desfeita. Quando o incluíram na negociação do seu resgate e trouxeram de volta a Portugal, saberiam que era a personagem errada, afim de evitar o levantamento de dúvidas, para que se deixasse de procurar o Rei?
Terá D. Sebastião de facto regressado ao Algarve e, caído em si de vergonha, pela desgraça causada à nação, se tenha escondido numa cabana de um pescador?
Terá D. Sebastião tido o tal encontro na fronteira de Espanha com o seu tio, Filipe II, combinando os dois o regresso de D. Sebastião, quando as “coisas do Estado” estivessem restabelecidas e a ocasião fosse propícia? O que é um facto é que o comportamento de Filipe I de Portugal, para com o Mundo Português e a lusa gente, foi significativamente diferente do depois aplicado pelos seus sucessores, que consideravam Portugal um feudo ou colónia.
O facto do “3º Falso D. Sebastião” se ter pronunciado como verdadeiro, precisamente após a morte de Filipe I, dá que pensar.
E as tenças pagas pela Casa de Bragança aos herdeiros de D. António Prior do Crato, nomeando-os embaixadores de Portugal (intervieram no Tratado de Utrecht), sem autorização para pisarem terras lusas? O mesmo aconteceu a uma família do norte de África, supostamente descendente de D. Sebastião.
O próprio filho de D. António Prior do Crato foi a Veneza e reconheceu D. Sebastião como seu Rei!
Qual a razão do forte desentendimento entre D. Sebastião e seu tio, o Cardeal D. Henrique (Inquisidor Mor), ao ponto do Rei lhe proibir entrar no Palácio e de impedir que funcionários seus aceitassem cartas do Cardeal a si dirigidas?
Como se entende a alegria manifestada todos os anos na data da batalha de Alcácer-Quibir pelos sefarditas de Tanger, que festejam a morte do nosso Rei, quando foram os Cristãos-Novos de Lisboa que pagaram metade dos custos da campanha?
Como se explicam as “estranhas” mortes dos 9 filhos de D. João III, incluindo a do Infante D. João, pai de D. Sebastião, que faleceu poucos dias antes do nascimento do filho?
Como se explica a estranha libertação de Damião de Góis dos calabouços do Santo Ofício e o seu assassinato numa albergaria quando ia a caminho para falar com D. Sebastião?
Como se explica uma partida para Marrocos, em pleno Verão, fortemente desaconselhada ao jovem monarca por todos os conselheiros militares?
Porque razão quase nunca se menciona que D. Sebastião já se ter tinha deslocado ao norte de África anteriormente e aí entrado em combate?
Porque não se menciona quem ordenou a aniquilação da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, transformando-a em mera ordem monástica?
Porque não se menciona que D. Sebastião pediu ao Papa a restauração da Ordem de Cristo como ordem religiosa militar, o que foi por este negado?
Tudo isto e muito mais merece ser estudado.
O aparecimento do ELMO DE BATALHA DE D. SEBASTIÃO teve uma consequência inesperada: o aparecimento espontâneo de um “NÚCLEO DOS AMIGOS DO ELMO”. Os seus membros declararam por escrito que “AMAM PORTUGAL” e colocam este seu sentimento acima dos seus interesses pessoais.
Com isto, ultrapassam grande parte dos historiadores “encartados” e bem merecem todas as ajudas possíveis. Nenhuma delas será financeira. Não haverá movimentação de capitais nem atribuições de títulos. Todos trabalharão como voluntários e iguais entre iguais, dentro do que lhes for possível e a favor do bem comum. Este é o restabelecimento da verdade histórica acerca de D. Sebastião e de tudo o que à retoma da sua defesa da Pátria estiver ligado.
Assim, pede-se a quem souber de qualquer documento ou objecto, que possa oferecer alguma luz acerca D. Sebastião, que informe do mesmo os membros do núcleo, por correio electrónico que se encontra na página do facebook em
http://www.facebook.com/home.php?sk=group_166483290056611 ou pelo blog Projecto Apeiron ou que se informe através do Google em “núcleo dos amigos do elmo”.
Pode também fazê-lo por carta dirigida ao Museu-Luso-Alemão, sito na Quinta Wimmer, 2605-213 BELAS, (Fax: 21 431 31 35), onde já se reuniram muitas dezenas de documentos e objectos ligados a D. Sebastião, juntos por gerações, que souberam manter o seu respeito e carinho por esta personagem ímpar e tão incompreendida da nossa História.
Aqui vai a imagem do ELMO de BATALHA de D. SEBASTIÃO, que outrora fez parte do conjunto usado pelo DESEJADO, representado no quadro atribuído a Cristóvão de Morais, no Museu Nacional de Arte Antiga.
Se o elmo pudesse falar, o Portugal dos nossos netos não sucumbiria a estatísticas incolores, mas mostraria a sua presença de velas enfunadas, bem-vindas por todo globo!

Rainer Daehnhardt
In revista "Finis Mundi", nº 2, Abril/Junho de 2001, págs. 64 a 69.

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