14.1.11

No Nova Frente: O bando de Argel


Em passeio pela blogosfera, dei de caras com o blogue de Patrícia McGowan Pinheiro, que também assina Patrícia Lança. Filha de pai português e mãe de origem irlandesa, estreia-se na blogosfera aos 82 anos. Dissidente do Partido Comunista Britânico, viveu de 1962 a 1966 na Argélia, onde foi redactora do "Révolution Africaine". Foi por lá que conheceu o bando de Argel. Ficou a saber a vidinha custosa e as boas acções de Manuel Alegre, Piteira Santos e Tito de Morais, entre outros figurões de estalo. O assunto inspirou-lhe um livro, justamente intitulado «O Bando de Argel», que a autora reeditou em 1998 pela Contra-Regra, sob o título de «Misérias do Exílio — Os últimos meses de Humberto Delgado». (Foi uma das obras que consultei para um volume publicado há alguns anos sobre a PIDE/DGS.) Em 260 páginas, a autora demonstra — com cópia de pormenores e apêndices documentais — que o general foi despachado pelos interesses coligados do Partido Comunista e do bando de Argel.
Oito citações:

"A Frente Patriótica de Libertação Nacional foi o título pomposo de um pequeno grupo de pessoas cujo fim era o aproveitamento de acções e sacrifícios feitos por outros." (pág. 27)

"Assim, a direcção da FPLN passou a ter uma valiosa arma contra a dissidência. Foram ao ponto de exigir que, à chegada, os portugueses lhes entregassem os passaportes". (pág. 46)

"Contudo, o problema do general [Humberto Delgado] subsistia. Tornara-se definitivamente anti-comunista. Seria ainda mais perigoso para o partido fora da Argélia — em contacto com os núcleos de exilados em várias capitais. E terrivelmente mais perigoso se, porventura, entrasse clandestinamente em Portugal. Era uma testemunha viva da incompetência e corrupção moral de certos prestigiados «anti-fascistas». Preso em Portugal ou livre na clandestinidade constituiria uma ameaça terrível para os projectos do Partido Comunista". (pág. 82)

"Na rádio Voz da Liberdade, o major Ervedosa e Manuel Alegre insultavam Delgado." (pág. 89)

"Durante esses dois meses de angústia [desaparecimento de Delgado], foram os dirigentes da Frente Patriótica — Fernando Piteira Santos, Manuel Tito de Morais, Pedro Ramos de Almeida e Manuel Alegre — que envidaram todos os esforços para bloquear a realização de um inquérito e, caso o general estivesse preso ou com vida, quaisquer tentativas para o salvar". (págs. 89-90)

"Quando eu e os meus amigos soubemos, no dia seguinte, que os dirigentes da Frente Patriótica tentaram apoderar-se do arquivo do general, a conclusão foi unânime: só teriam essa desfaçatez se tivessem a certeza absoluta que Delgado já não voltaria mais". (pág. 90)

"Só depois da descoberta dos cadáveres, anunciada no dia 27 de Abril, é que a Frente Patriótica abandonou a tese de uma «operação publicitária» por parte do general; só então, quando o mundo inteiro já sabia da morte do general, é que eles começaram a emitir protestos e apelos (...)" (pág. 91)

"(...) a sua actividade [de Humberto Delgado] é prejudicial à unidade anti-fascista e a sua pessoa não interessa ao futuro democrático do país." (p. 226, excerto de um comunicado da FPLN, de 23 de Março de 1965)

Mas não é por nada disto que o blogue de Patrícia tem dado brado. Há muito que a «intelligentzia» arquivou o caso Delgado: foi assassinado pela PIDE. Ponto final. Ninguém curou de investigar se Casimiro Monteiro era um agente duplo, o modo como Pereira de Carvalho organizou a operação, etc. Um longo etc. Nada disto importa, tanto que se corre o risco de descobrir alguma verdade "inconveniente". O blogue de Patrícia foi esmiuçado pelo jornalismo de costumes por causa de uns postais de sexo oral e anal. Parece que a opinião da bloguista contraria a ditadura do sexualmente correcto. A «controleira» do DN deitou-lhe as unhas este fim-de-semana. Em Portugal é mesmo assim. Fala-se de sexo, assomam logo as putas à janela do pasquim.»

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