11.12.10

Até que enfim!

Cinco mil foi o número de assinaturas necessário para forçar a abertura das portas deste museu. Nasceu em 1940 pelas mãos da ditadura, com o nome de Pavilhão do Mundo Português. Era suposto ser uma construção temporária mas resistiu ao longo dos tempos para se tornar no Museu de Arte Popular (MAP). Esteve fechado ao público durante anos e até sofreu a ameaça de demolição. Mas o MAP vai reabrir completamente remodelado no dia 13, cheio de histórias para contar sobre si mesmo e Portugal.
Lá dentro o cheiro é a tinta. Os trabalhadores continuam a pintar, colar e serrar para deixar o espaço pronto para o dia de abertura. Apesar do ambiente de construção, a parede da entrada com grandes figuras de homens que carregam e arranjam redes de pesca, não deixa enganar. O mapa de Portugal, à direita, dividido por regiões, confirma o propósito do espaço: contar a história do povo português.
"Construtores do MAP: Um museu em construção" é o nome da exposição que estará patente durante seis meses. O objectivo é contar a história do museu e dos que estiveram envolvidos na sua construção. "Explicar quem eram estes construtores, artistas, arquitectos, ideólogos. Todo o percurso desde o princípio do século XX, até ao modernismo português" explica Andreia Galvão, actual directora do Museu de Arte Popular.
As origens do actual museu remontam a 1940, quando sob o regime salazarista foi construído o Pavilhão do Mundo Português. O espaço pretendia mostrar a identidade do país, dentro e fora dos seus limites. Em 1948 foi baptizado pelo nome que guarda até aos dias de hoje.
Com graves problemas de estrutura, encerrou em 2006, por decisão da ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima que queria aí instalar o Museu da Língua Portuguesa. Entretanto muito burburinho se gerou à volta da instituição que reuniu cinco mil assinaturas a seu favor. Em 2009, a ministra da cultura, Gabriela Canavilhas anunciou que o Museu de Arte Popular renasceria.
"O museu está de pé e reabre com uma alavanca enorme do movimento cívico, por isso tem de ir ao encontro das pessoas" explica a directora. Andreia Galvão, arquitecta e professora, foi seleccionada num concurso público. Interessada neste período, a arquitecta acredita que esta é altura oportuna para um estudo científico e que antes "talvez não houvesse o distanciamento suficiente para fazer uma supra leitura". Andreia acrescenta, em tom de brincadeira, que "não se pode correr o risco, que é o que ninguém quer, de ser chamado fascista".
Entre a história de arte e a antropologia, a exposição é como uma viagem ao passado: do museu, da arte e da história do país. O espaço reúne entre 14 e 15 mil peças, que entretanto foram depositadas no Museu Nacional de Etnologia.
Destacam-se as famosas miniaturas que, para a directora, são "um dos pontos âncora da colecção". Estes objectos, que faziam parte da própria estratégia de comunicação do Estado Novo, apresentam "um Portugal amoroso, todo em pequenino", remata.
O nome do museu pode soar familiar à camada mais jovem. Foi o MAP que acolheu, em Novembro a última edição do Optimus Hype. Andreia Galvão confirma estas iniciativas são uma das formas de sustentabilidade dos museus e acrescenta que depois da reabertura "eventos com essa dimensão vão ser difíceis". Lado a lado com o museu, abrirá uma loja com produtos de artesanato.
Junto ao rio Tejo e à frente do CCB, este museu mostra outro tipo de arte: a regional. A directora rejeita a rivalidade com as formas de expressão contemporânea, declarando que "a arte não nasce do zero e todas as fontes de inspiração são válidas".»

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