9.10.10

Pensamentos de Alfredo Pimenta - XV

«... A representação das minorias nada resolve, pois, ao contrário do que muita gente afirma, entendo que da discussão, geralmente, sai mais treva do que luz.
As discussões parlamentares são justas de palavrosos - e com palavrosos os povos caminham a estrada que o nosso tem caminhado. No entretanto, a verdade é a mistificação parlamentar entrou tanto no quadro dos vícios, irreprimíveis, que, à semelhança do que acontece com o jogo, será bom regulamentá-la. A regulamentação do parlamentarismo consistirá, assim, em conceder a capacidade eleitoral apenas aos que, presumivelmente, podem e sabem dispor do seu voto, e em restringir as funções parlamentares ao mínimo. A primeira medida contribuirá para a repressão da anarquia da Opinião Pública; a segunda, para a limitação da anarquia das esferas governativas.»(1)
«... Não tenho dúvidas sobre o futuro. As coisas continuarão como até aqui — porque o Estado suga até ao tutano o contribuinte, para manter o exército infindável duma Burocracia desnecessária. Só uma reforma integral da nossa vida política, não só na constituição do Estado mas no sistema da vida, poderá dar bons frutos.
Os regimes dos partidos políticos tem que alimentar as clientelas que os apoiam. Um Estado são pode entrar pelo caminho são e duradouras economias, quando estiver livre das exigências das clientelas. Nunca poderá atingir essa situação, um Estado democrático, porque um Estado democrático é, por definição o Estado das clientelas.»(2)
«Os partidos mexem-se. E a Nação vê com terror o regresso dos Partidos.
Não são cá precisos, os Partidos. A Nação dispensa os Partidos. Todos os partidos. Porque uma Nação não a constituem partidos. Os Partidos desunem, cavam abismos, semeiam a discórdia. A união da família portuguesa só pode fazer-se, se se sacrificarem os Partidos, sobre as ruínas dos Partidos. Bandeiras partidárias? Não as queremos. Uma bandeira chega — a da Pátria.
Os Partidos mexem-se?...
Que a Nação em peso grite connosco, para que todos oiçam bem: — fora! Fora! Fora!»(3)
«... Na imprensa governamental, aparece a distinção imbecil de bons e maus partidos, de partidos honestos e partidos desonestos. O que há é Partidos. E todos os Partidos são maus, porque eles provocam a desorganização nacional.
Partido quer dizer interesse particular sobreposto ao interesse geral, quer dizer introdução no Estado de um elemento corrosivo do próprio Estado.
Substituir um partido por outro é substituir um mal por outro mal. (...) Distinguir entre partidos é fazer obra partidária.»
Afirmam-se contra todos os partidos? Muito bem. Afirmam-se contra um e não contra outros? Muito mal.»
«... O regime dos Partidos é uma calamidade. Foi ele que arrastou a Europa inteira à situação anárquica de que ela quer, agora, libertar-se, organizando-se à margem dos Partidos.
Os Partidos põem a Liberdade acima da Ordem. Os regimes da opinião têm o culto da Liberdade. As Nações exigem que acima da Liberdade esteja a Ordem, e que se tenha o culto da Ordem.»(4)
Notas:
(1) - In Novos Estudos Filosóficos e Críticos, pp. 169/170, Imprensa Nacional, 1935.
(2) - In Coisas de Ensino, in «A Época», n.º 2401, p. 1, 19.04.1926.
(3) - In Fora! Fora! Fora! in «A Voz», n.º 166, p. 3, 20.07.1927
(4) - In Ocasião Perdida, in «Acção Realista», n.º 68, p. 1, 05.07.1926.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma maravilha. Concordo com tudo. E tudo o que foi escrito por A.P. é a pura verdade.
Hoje fazem-nos muita falta Homens desta dimensão patriótica e desta estatura intelectual e humana. Há alguns e não tão poucos assim, é certo, mas seriam precisos muitos mais para alterar o estado deplorável em que Portugal se encontra, graças à famigerada democracia e a quem a instituiu cujos pecados mortais Alfredo Pimenta tão judiciosamente denunciou.
Maria

Anónimo disse...

"... porque um Estado democrático é, por definição o Estado das clientelas". A.P.

E que clientelas! Elas são às dezenas de milhar, senão às centenas. Uns parasitas que usurpam aquilo que não lhes pertence a troco duma bajulação sem limites aos donos do regime. Clientelas que noutro regime que não este, jamais existiriam .

O Estado democrático é por definição o Estado da corrupção sem freio e das mega fraudes sucessivas e permanentes. Porque eles, os grandes democratas, já nem as praticam no segredo dos gabinetes, qual quê!, eles praticam-nas às claras e a todas as horas. E fazem-no sem pingo de vergonha na cara, rindo-se alarvemente de um povo que eles tomam por estúpido. E em certa medida até o é, porque sabe dos enormes crimes económicos praticados diàriamente e continua impávido e sereno como se estivesse a ser governado por políticos incorruptíveis.

E isto perdura há 36 anos ininterruptamente para desgraça de um país depauperado ao extremo e de um povo traído desde a primeira hora em que, num dia de má memória, eles cá entraram para nunca mais saírem. Isto há-de ter um fim. Tem que ter. Tenhamos Fé de que brevemente, assim Deus o queira. Afinal a esperança sempre foi a última a morrer.
Maria
.