2.10.08

Uma ideologia e dois sistemas

Muito interessantes e coincidentes as declarações do escritor, dissidente soviético, Vladimir Bukovsky sobre o Tratado de Lisboa.
Para mim, 1+1=2 e não 1+1=11.
***

"É surpreendente que após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha construído outro semelhante: a União Europeia (UE). O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabê-lo examinando a sua versão soviética.
A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.
Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos. O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (…)
Eu já vivi o vosso «futuro»…"

2 comentários:

Anónimo disse...

Quarta-feira, Outubro 01, 2008
Comments (2)

O Mito do Aristides – Adenda

Acaba de me chegar às mãos um exemplar de “Uma Autobiografia Disfarçada” do Embaixador Hall Themido. No meio de alguns capítulos de interesse, encontra-se um capítulo dedicado à mitificação da figura de Aristides de Sousa Mendes de que transcrevo algumas passagens, de forma a que se possa compreender o que se terá passado na elaboração de uma personalidade recentemente proclamada como figura ímpar da nossa história.
Fala o autor.

“Com alguma surpresa, a meio da minha estada em Washington, talvez em 1976, a Embaixada começou a receber pedidos de informação sobre Sousa Mendes (...) Compreendi que iniciava uma campanha para enaltecer a figura daquele colega e denegrir Salazar.”

“A essa meritória tarefa de salvar judeus ficaram associadas várias das nossas Missões Diplomáticas, devendo salientar-se, por estar documentada, a acção dos Embaixadores Carlos de Almeida Afonseca Sampaio Garrido e Alberto Carlos de Lis-Teixeira Branquinho, que no seu posto, na Hungria, concederam a judeus numerosos vistos , e até asilo e passaportes de conveniência, afrontando as autoridades locais, já subjugadas pelos alemães.(...) Essa actividade era exercida de forma muito discreta , ao ponto de os nomes dos beneficiados dos vistos não serem sequer comunicados ao Ministério pelos canais habituais, para evitar que chegassem ao conhecimento dos alemães”

“De forma totalmente irrealista fala-se em trinta mil [vistos], concedidos em apenas alguns poucos dias, pelo cônsul e seus familiares, de forma cega, no Consulado e até nos cafés da vizinhança.”

“Este assunto, ressuscitado decorridos mais de trinta anos, apimentado com a “invenção” de que se tratou de um gesto de oposição ao regime, tornou-se bandeira ao serviço de todos os que criticam o Estado Novo.”

“É difícil emitir opinião sobre o que levou um funcionário com uma carreira apagada a desrespeitar instruções. Ignorando relatos britânicos que mencionavam alguns desses vistos terem sido pagos, e pondo de lado um ataque súbito de demência, fica como única hipótese credível estarmos perante alguém que compreendeu (...) que tinha de assumir as responsabilidades de salvar refugiados em perigo de vida.”

“Neste quadro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a sua hierarquia de funcionários (...), bem como as leis e os regulamentos que regiam esse departamento são ignorados. Como se não existissem. O odioso recai só sobre Salazar. É esse o mito criado por judeus e pelas forças democráticas saídas do 25 de Abril.”

“Ocorre-me perguntar o que aconteceria hoje se, hipoteticamente, o cônsul de Portugal num país africano, flagelado por doenças altamente contagiosas ou a guerra, decidisse conceder vistos para Portugal por razões humanitárias e sem a necessária autorização.”

“O processo disciplinar que lhe foi movido quando era cônsul em Bordéus foi o último de vários de que foi alvo ao longo da carreira, quase sempre por abandono do posto ou concussão. Pelos vistos, Aristides de Sousa Mendes, além de viver acima dos seus meios, o que tinha reflexos nas contas consulares, gostava de abandonar os postos, sem autorização, para visitar Paris, segundo se dizia movido por razões sentimentais. Como tem acontecido em outros casos mediáticos, a maioria desses processos disciplinares desapareceu misteriosamente do Arquivo Geral...”

“E não pode deixar de surpreender a falta de empenho dos sectores interessados nesses assuntos em louvar também os Embaixadores de Portugal que, nos seus postos e cumprindo instruções, concederam vistos à grande maioria dos cerca de oitenta mil refugiados que entraram no nosso país durante o conflito.”

João Hall Themido “Uma Autobiografia Disfarçada”, Instituto Diplomático, Lisboa 2008. [pp.169-173]
Etiquetas: Salazar


posted by O Corcunda at 03:01

Diogo disse...

E que dizer dos Estados Unidos? Subjugados ao Federal Reserve e ao complexo militar-industrial?

Quem pensa Bukovsky que manda nos EUA, na Europa, ou na Rússia (ou mandava na ex-União Soviética)?

Concordo com ele sobre o monstro. Mas pergunto-me se ele sabe o real tamanho do monstro. Quem pensa ele que sustenta e impõe os burocratas? Cá, na Rússia ou do outro lado do Atlântico?

É o dinheiro. O todo poderoso dinheiro. Bukovsky não vai ao fundo da questão. Fica-se pelos escalões intermédios. Porquê?

Quem impôs o Barroso ou o Trichet? Com que objectivo?