23.7.08

O 25 de Abril e Marcello Caetano pela PIDE - II

«Por volta das 2 ou 3 horas da madrugada, recebi na minha residência um telefonema da DGS. Pedia-me que fosse buscar o presidente do Conselho de Ministros a casa, na Rua Duarte Lobo.
(…) Quando cheguei a casa de Marcello Caetano, ele já estava à minha espera. Cumprimentei-o, trocámos algumas palavras de cortesia. Entrámos no carro. Disse-lhe que o conduziria à 1.ª Região Aérea, em Monsanto, para onde ele fora no 16 de Março e como de resto estava previsto para situações de emergência. Marcello disse-me que não queria ir para Monsanto e impôs o Carmo como destino.» (p. 159)
«Entrei com o carro no quartel, estacionei na parada. Fomos recebidos pelo comandante da GNR, general Adriano Pires, que estava à nossa espera. Percebi depois que Marcello Caetano lhe telefonara de casa, antes de eu lá chegar, informando-o que iria para ali.
Passei o dia todo ao lado do presidente do Conselho. Ou estava com ele no gabinete do comandante, ou estava à porta.
Telefonou aos chefes militares e a alguns ministros. Talvez uma hora depois, chegaram o Moreira Baptista, ministro do Interior, e Rui Patrício, ministro dos Negócios Estrangeiros. Este, mal me viu, perguntou-me quanto tempo mais era preciso para sufocar a rebelião. Eu disse-lhe que, por mim, era já, mas estava tudo nas mãos do presidente do Conselho…
Entretanto, Marcello recebeu um telefonema do almirante Ferreira de Almeida, comunicando-lhe que estava uma fragata no Tejo pronta a bombardear as tropas sublevadas no Terreiro do Paço. Todavia, Marcello deu-lhe ordens para não disparar. Nunca percebi! A rebelião tinha acabado ali… Telefonaram-lhe também os generais Kaúlza de Arriaga e Santos Costa, dizendo-lhe que tinham unidades da Força Aérea e do Exército prontas a acabar com a sublevação, mas a todas essas indicações Marcello respondia ou que não queria um banho de sangue, ou que ficassem a aguardar ordens suas. As horas foram passando e… nada! Marcello nunca deu ordens a ninguém para resistir ou contra-atacar.» (p. 160)

Diogo Albuquerque
Chefe de Brigada da DGS.

In Bruno Oliveira Santos, Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, Lisboa, 2000.

2 comentários:

Anónimo disse...

Extraordinárias e reveladoras transcrições, relatos e opiniões sobre Marcello Caetano e a sua responsabilidade no caos em que nos encontramos. Desconhecia por completo esta sua faceta política menos digna, digamos assim, para ser branda. Com efeito ainda lhe tinha alguma consideração a ponto de o julgar vergonhosamente traído pelos militares e também por alguns ministros. Não quero apelidá-lo de traidor, por respeito para com a sua memória, mas se tudo o que vem sendo descrito é verdadeiro, então terei de concordar que efectivamente ele foi um traidor à Pátria. E não pela sua suposta vontade de democratizar o País, que teria tido eventuais virtualidades, mas por tê-lo entregue de mão beijada aos maiores traidores que o nosso País jamais conheceu, facto que ele sabia perfeitamente por de seus perfís políticos e pessoais ter profundo conhecimento há muito tempo. O meu pai conheceu Marcello Caetano vagamente e nunca disse mal dele. Nem particularmente bem, aliás, por uma questão de feitio mas também por educação e por respeitar a sua família. Do mesmo modo que nunca disse mal de Salazar e no entanto não se identificava nem um bocadinho sequer com a sua ideologia política, que não da sua integridade, honestidade e patriotismo, que sempre realçou. E o meu pai não gostava de Salazar por professarem ideologias políticas completamente antagónicas, consequência do ambiente em que cresceu e se formou, numa Coimbra - de então - muito politizada e impregnada pelos ares republicanos que nessa época sopravam fortemente de todos os lados e que o marcaram decisivamente para toda a vida. Quem viveu e estudou na Coimbra desses tempos ficou marcado pelos ideais políticos de esquerda, como aconteceu com a maioria dos seus colegas universitários e amigos da época. Não obstante, o meu pai, honesto e íntegro até à medula, reconhecia em Salazar as qualidades intelectuais e de chefia que lhe eram intrínsecas, que uma vez por outra sublinhava e que nunca pôs em questão, mas sempre com as reservas políticas inerentes. Salazar era monárquico, como categòricamente o afirmou em entrevista D. Pedro d'Orleães e Bragança, que o conhecia muito bem, aquando de uma sua passagem por Portugal, embora ninguém o queira reconhecer ou aceitar. Basta que se recordem os monárquicos com quem se relacionava e o respeito e consideração que lhe mereciam os membros da família real e as variadíssimas homenagens a eles prestadas durante o seu Regime. Sendo o meu pai um republicano totalmente convicto, em virtude das influências políticas de esquerda sofridas enquanto estudante, isso não o impedia, como pessoa de elevados valores morais e patrióticos, de respeitar os monárquicos, junto d'alguns dos quais aliás cresceu e de quem se tornou amigo para toda a vida, isto pelo facto de meu avô se relacionar, por amizade, com essas famílias. Há um episódio curioso e sintomático do seu respeito para com a monarquia que vinha de pequenino e que ele recordava com uma certa nostalgia, entre as muitas histórias verdadeiras que nós, filhos, adorávamos ouvi-lo contar, sem grande importância para estranhos mas que aqui deixo para que se compreenda como é que um ambiente monárquico desde o berço pode moldar o carácter de um jovem, embora mais tarde tornado republicano pelo ambiente em que estudou e de quem se rodeou (os ainda vivos que tenham feito o percurso académico na Coimbra desses tempos e até posteriormente, saberão do que estou a falar), a ponto de respeitar os dois regimes por igual e incutindo aos filhos o mesmo respeito por ambos. Era o meu pai muito pequenino, segundo ele teria cerca de 4 anos, quando um dia veio de passeio até Lisboa com os seus padrinhos monárquicos, propositadamente para assistir a uma tourada Real na Praça de Touros do Campo Pequeno, onde teve a subida honra (como ele dizia) de conhecer pessoalmente o Rei D. Carlos, acontecimento que o impressionou de tal forma que o relembrava volta e meia enquanto viveu. Para o republicano convicto que se dizia e era e de que muito se orgulhava, não estava nada mal esta costela monárquica, que já despontava e sempre conservou. O meu pai era sobretudo uma pessoa de elevadíssimos valores morais e patrióticos, independentemente de ser republicano ou não, valores estes que colocava acima de todos os outros. O seu monarquismo deu-se porque foi neste ambiente de nobres tradições - fidelidade à família, respeito a Deus e amor incondicional à Pátria - que foi educado, valores estes que considerava sagrados. Não foi por acaso que veio a casar com uma monárquica.
Como bom Republicano que era, quando se deu o 25/4 aceitou de bom grado a mudança de regime embora, curiosamente, não com excessivas salvas o que de certo modo nos admirou (mas sabendo ele perfeitìssimamente bem o que tinha sido a 1ª República e conhecendo de cor os percursos políticos dos "anti-fascistas" de fresca data, que acorriam aos magotes para libertar o desgraçado povo da férrea escravidão a que estava submetido, parecia que adivinhava o que estava para vir). Por outro lado uma grande euforia sentiram, ingènuamente para nossa desgraça, quase todos os portugueses de todas as tendências políticas, que receberam os 'libertadores' como heróis nacionais. Excepto as pessoas muito idosas, de classes altas ou humildes, que ainda se lembravam do terror que havia sido a Primeira República, como foi o caso de um casal conhecido dos meus pais, já bastante avançado na idade, ele médico, que dizia o pior que imaginar se possa da "democracia e de todos os partidos a ela ligados" (no dizer desta Senhora "a violência era inaudita e os roubos e assaltos diários a residências eram de tal ordem, que as pratas tinham de se esconder debaixo das camas"..., igualmente tivemos relatos concludentes de gente humilde da província contra as mudanças políticas em curso) mas a que nós não demos o devido valor na altura, contrapondo que os tempos eram outros, que ia tudo ser diferente, que não haveria os exageros d'outrora, que não iria acontecer nem o mesmo terror nem a mesma violência nem igual corrupção, nada disso se iria repetir, aqueles eram políticos modernos, patriotas, honestos... Então não eram! Honestíssimos e incorruptíveis! Foi o que se viu, o que se vê e o que ainda se há-de ver. Toda a degradação económica, social e moral, violência de toda a ordem e crimes de toda a espécie, que aquele casal garantiu absolutamente irem repetir-se com a novel democracia, acabadinha de chegar a um País onde um povo ingénuo a recebeu de braços abertos, alheio que estava ao mal que ela e eles representavam (e os "democratas" sabendo de cor tratar-se de um povo polìticamente ignorante e profundamente crédulo, aproveitaram-se desse facto para provocarem estragos de dimensões incomensuráveis), repetiram-se com sobras. Infelizmente o meu pai não viveu o tempo suficiente para conhecer a verdadeira génese dos filhos dos seus admirados republicanos, os auto-proclamados "democratas anti-fascistas" de fresca data, que abandonaram o seu exílio dourado para abnegadamente vir arrancar a Pátria das garras da horrenda ditadura, trazer o infeliz Povo à luz do dia depois de tão tenebrosa escuridão provocada pela longa noite, implantar a benfazeja democracia e oferecer aos desvalidos portugueses uma radiosa aurora acompanhada de uma auspiciosa e total liberdade. Perante a violência, crimes, marginalidade, roubos, corrupção política e económica e degradação social e moral que se vive em Portugal, só nos resta chorar compulsivamente e rezar com fervor para que Deus nos ajude. Muito gostaria eu que o meu pai pudesse ter assistido a algum, só algum, deste perfeito inferno em que nos encontramos, para ouvir a sua opinião abalizada sobre as altas traições e crimes cometidos pelos auto-proclamados anti-fascistas, filhos e netos d'alguns republicanos que conheceu. Ele sempre dizia que um crime de sangue e uma traição à Pátria só mereciam um castigo: o fuzilamento. E não chegou ele a conhecer o outro crime, o maior entre os maiores, em que todos os políticos e governantes andavam metidos já por essas alturas com total desconhecimento dos portugueses, o mais gravoso que uma sociedade pode conceber, a pedofilia. Possìvelmente aconselharia para estes o enforcamento. Justamente porque era de uma honestidade, integridade e patriotismo absolutos, mas inflexível nas transgreções quaisquer que fossem - motivo pelo qual respeitava Salazar por serem estas as qualidades que também lhe reconhecia - nunca aceitaria de ânimo leve o bando de corruptos, criminosos e traidores que os políticos d'Abril se vieram a revelar, por muito socialistas ou republicanos que se reclamassem.
Sendo embora bastante mais novo, o meu pai ainda chegou a conhecer pessoalmente o pai de Mário Soares por motivos de trabalho. Respeitava-o como pessoa e por com ele polìticamente se identificar, calculo eu. Nunca falou muito dele por simplesmente nada de especial ter para dizer, deduzo. Quase não se discutia política lá em casa sobretudo por respeito para com a minha mãe e sua família, mas, se bem me lembro, em relação ao Regime algumas injustiças graves sofreu o meu pai na sua vida profissional, de certo modo graves e no entanto nunca o ouvi atribuir culpas do facto a Salazar. Ao Regime,isso sim, embora sempre com algumas atenuantes. Por exemplo, salientava e louvava a estabilidade política em Portugal, imprescindível para o bem estar do povo e, contràriamente, por comparação, criticava a instabilidade política na democrática Itália, consequência dos maus políticos, únicos responsáveis pelos incontáveis governos desde o final da guerra. Quanto ao "nosso" grande democrata, republicano, laico e socialista, muito antes dos portugueses conhecerem a verdadeira massa de que Soares-filho era feito, quando toda a gente ainda lhe cantava hossanas e acreditava nas suas loas ao socialismo e à democracia, já o meu pai, detectando-lhe alguma hipocrisia nos discursos, mentiras e tiques subtís, que lhe desagradavam sobremaneira (e sem saber da missa a metade), explodia irritado "o pai era uma pessoa como deve ser, mas o filho é um autêntico palerma, olhem só para os disparates que lhe saiem da boca para fora". Esta era a forma condescendente e educada do meu pai a ele se referir naqueles tempos recuados e a anos-luz de ser conhecida na plenitude a pessoa por detrás de cuja máscara se escondia aquele que hoje os portugueses conhecem bem demais. Teria sido bom o meu pai ter vivido mais uns anos para ter ficado a conhecer o verdadeiro 'socialista-lutador-anti-fascista', e principal causador da destruição de Portugal e responsável pela morte de milhões de seres inocentes, de centenas de milhares de estropiados, das mega-corrupções em ele foi e continua a ser o principal beneficiário e beneficiado e a que toda a classe política está ligada e da podridão moral em que toda ela chafurda.
Para já não falar na destruição de parte da nossa juventude através da droga introduzida propositadamente no País com o beneplácito do poder e ordem explícita para o fechar d'olhos das autoridades - uma parte das quais, segundo as notícias, traficante - com essa exacta finalidade, destruir a juventude e simultâneamente arrecadar biliões com o tráfico e roubo e por último o mais abjecto, inqualificável e delorável de todos os crimes possíveis, o abuso sexual de crianças e, pasme-se, pela própria classe política, altas individualidades a ela ligadas e cada vez mais anónimos e gente por demais conhecida que, sentindo-se protegidos, lhe seguem o exemplo. Este é um crime sem perdão e sendo o mais gravoso e repugnante dos crimes a que uma sociedade pode estar sujeita, dilacera-nos a alma. A todo este completo horror junta-se a dor excruciante de um povo que vê o inferno em que se encontra mergulhado sem nada poder fazer para se salvar. Os portugueses não têm forças de segurança que os protejam, as ordens expressas nesse sentido vêm de cima e têm que ser acatadas. Restam-nos as Forças Armadas, a única entidade superior de qualquer Estado com o efectivo poder, a autoridade e a força das armas, que por direito lhes pertencem, para protegerem e defenderem os Povos e Países e a quem estes recorrem como último recurso em caso de perigo grave. Os portugueses correm um dos mais graves perigos da sua História. De que estão à espera as F.A. para actuar? Que forças malignas e poderosas os impedem de nos defender do mal que nos assola?
Este absoluto inferno foi a trágica herança que Marcello Caetano nos legou por interpostos traidores, transformando-o num deles. Afinal um naipe de gente demoníaca, que para nossa desgraça e infelicidade como Povo, nasceu por engano no solo Sagrado de Portugal.
Maria

Anónimo disse...

Estou inteiramente de acordo com o que se disse nesta página. Ainda há boa gente que sabe o que diz.