3.7.08

Livro: A vertigem da Descolonização - I

O clima de terror

“Em meados de Outubro e princípios de Novembro, registaram-se confrontações violentas provocadas por bandos de negros armados, de que resultaram vários mortos, um deles motorista de táxi e numerosos feridos, o que obrigou o Comando-Chefe a reforçar as patrulhas mistas com unidades militares, acabando estas por terem de intervir em alguns daqueles bairros – Rangel e Golfe – para repor a ordem e terminar com os desacatos.
Quatrocentos kms a leste de Luanda, nas cercanias de Malange e mais concretamente na área do Duque de Bragança (povoação que retirara o nome das célebres quedas do rio Luando), o clima de insegurança generalizada havia-se igualmente instalado, a partir dos finais de Outubro. Na ausência de uma acção esclarecida e endoutrinadora por elementos credenciados dos movimentos de libertação, notou-se que… «marginais ou agitadores de última hora, explorando ressentimentos ou ódios velhos, conduziram parte da população africana a cometer violências e pilhagens que se estenderam progressivamente a toda a região do Duque de Bragança. O saque e a instabilidade instalaram-se pouco a pouco em todo o vasto sector, de forma que se aproxima do incontrolável.
Vítimas, por agora, apenas ou quase, fazendeiros e comerciantes europeus: mais de dezasseis fazendas pilhadas ou incendiadas pura e simplesmente na área do Duque, gado abatido no Cota, a povoação do Duque assaltada por uma multidão em fúria que destroe e saqueia rapidamente mais de dois terços das casas comerciais. As poucas fazendas da área ainda incólumes encontram-se actualmente abandonadas, com toda a maquinaria retirada e recolhida no Duque. Duas casas comerciais apenas abertas ainda no Cota, sob a vigilância da tropa, algumas do Duque, onde a tragédia sangrenta foi evitada pelo bom senso e pela calma de um jovem alferes que conseguiu conter a tempo os seus soldados, enfrentando desarmado a multidão incontrolada.
Lá, como em Luanda, o problema maior parece ser a ausência ou incapacidade que esperamos passageira, de um controlo efectivo das massas populacionais por parte dos movimentos de libertação.
Sem isto, as populações parecem estar sendo instrumentalizadas por agitadores marginais, cujo objectivo único é a pilhagem. Só a eles serve a desordem.
Com o desaparecimento gradual de casas e povoações comerciais esboroam-se lentamente os circuitos de comercialização de produtos essenciais à população africana. O abandono de fazendas terá consequências fáceis de prever a curto prazo. E nesse momento sofrerá toda a economia da região e, seguramente em primeiro lugar, a própria população africana.»” (p. 132/133)
“Este clima generalizado de insegurança e de perturbação não era, no entanto, motivo bastante para suscitar na vasta maioria da população branca, nascida ou radicada em Angola, o intento de abandonar o território. É verdade que o quotidiano de violência e bem assim as carências ou o agravamento de preços de muitos bens de primeira necessidade, inclusive de produtos alimentares, haviam contribuído para o regresso definitivo à metrópole de muitos milhares de portugueses, cansados e traumatizados pelo efeito paralisante das greves em muitos serviços, empresas e actividades essenciais – portuárias e piscatórias. Outro factor extremamente negativo era a falta de segurança nas estradas, onde, com frequência, camionistas eram assaltados e agredidos, e as cargas que o transportavam saqueadas, daqui resultando consequências funestas para o vital fluxo de mercadorias, desde há muitos anos assegurado por aqueles profissionais, entre o litoral e o interior, e vice-versa.” (p. 134)

Eis um dos exemplos do terrorismo exemplar que os terroristas negros aplicaram aos portugueses de etnia branca. Perante a decisão do terror e da ameaça contra a população branca, nascida ou radicada em Angola, perante a desordem, o caos, a insegurança e face à substituição do contingente militar português por um grupo de bandalhos armados que usavam a farda do exército português enviados da Metrópole que não actuavam ou quando o faziam era em protecção das forças do MPLA, que fazer diante do planeado assassinato da comunidade branca?
A população branca estava armada mas a tropa fandanga tinha-a abandonado deixando-a à mercê dos bandos do MPLA, armados pela União Soviética e por Cuba, não esquecendo o contingente militar cubano na ordem de 300.000 e que evitou a entrada em Luanda das forças da FNLA, dos Comandos Especiais portugueses e da força sul-africana!
Era dado mais um passo definitivo para a destruição do Império - desde a queda da Índia Portuguesa em Dezembro de 1961.

1 comentário:

Anónimo disse...

Extraordinárias e reveladoras transcrições. A pouco e pouco, embora devesse de preferência ser a muito e muito, vão-se conhecendo as dolorosas chagas da descolonização à força (dever-se-lhe-ia antes chamar genocídio diabólica e cirùrgicamente programado, que foi efectivamente do que se tratou) e os seus principais actores/traidores/criminosos, responsáveis directa ou indirectamente pela morte de milhões de inocentes. Muitos parabéns por elas e que venham muitas mais.
Maria