6.11.07

Condestável visto por Carlos Eduardo de Soveral

«São Portugal em ser»
o definiu Pessoa.
Mas ora aquele de quem a devoção
do clero e de fiéis bem infiéis
— e não à toa.... —
refuge desde há muito,
pois se não vê, não sente nem entende
o amor da Pátria assimilado
— e ordenado —
com o de Deus Senhor. (...)
Devoção que nem mesmo tem por alvo
o santo e pobre monge
em quem
o grão Conde de Ourém,
o `spantoso vencedor,
humílimo ficou,
e o nome de Maria,
ao de Nuno bem ligado,
como tanto, tanto, qu`ria,
enfim, tomou.

Quem à Pátria, agreste, não venera
e, antes, abomina,
há de ao seu campião desatender e mal julgar,
em cega e surda sina.

Carlos Eduardo de Soveral
Alto da Castelhana, Janeiro 99.
Ocorre o passo da Crónica do Condestabre de Portugal (Cap. XIX): «E porem sua palaura nem largas promessas prestaram pouco: ca por cousa que dissesse nuca pode mudar Nunalvarez seu filho de sua bõa tençom, ante cõtrariaua a sua madre dizendo — «q Deos nom quixesse que por dadiuas e largas promessas elle fosse cõtra a terra q o criara: mas q antes despederia seus dias e aspargeria seu sangue por emparo della» (...)» (Itálico nosso.) E também este do folheto do Conde d`Aurora, Anti-Nun`Alvarismo, Porto, 1960: «Mas é visível, não necessita [de] nenhuns óculos de ver ao longe, é visível a olho nu e a todos, essa constante, essa linha de força (e de que força!) — actuando contra Nun`Álvares! E porquê? Essencialmente porque é Santo! Porque, para as forças do mal, essa simbiose de Heroi Nacional e de Santo da Igreja — é duplo alvo de atacar, suprimir, anular.» [...] «Fez o milagre máximo da raça — sobrevivemos graças à sua indómita coragem e valor — deu-nos [uma] multissecular independência, deu-nos a possibilidade do Portugal das cinco partes do mundo [...] — e deixámo-lo cair no esquecimento, desafervorando o seu culto, esfriando gradualmente a veneração ao Santo Condestabre: permitindo que alguns historiadores de nomeada o abocanhem e minimizem! E não recorremos à sua protecção milagrosa! Como há-de fazer milagres se lhos não pedimos!»
Nun`Álvares, como Condestável e como Fr. Nuno de Santa Maria, constitui a mais juvenil, santa e formidável acusação às tibieza e insensibilidade, nenhum patriotismo, dum clero que, desrespeitando a vontade do Senhor, que em Portugal o implantou, não ama a Pátria e a Justiça que se lhe deve.

C.E.S.
Inédito

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